quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Aborto no segundo trimestre

Por que o aborto tardio acontece?

Cerca de 98 por cento dos abortos espontâneos acontecem no primeiro trimestre da gravidez, isto é, nas primeiras 13 semanas. Embora seja mais rara, a perda do bebê depois disso também acontece. No Brasil, a perda do bebê é considerada abortamento quando acontece até 20 semanas de gestação, ou mais tarde, se o feto pesar até 500 gramas e menos de 25 cm. 

Depois disso, o bebê é considerado natimorto. 

São várias as possíveis causas para uma perda desse tipo: 

• Problemas com a placenta, como hemorragia, insuficiência placentária ou descolamento da placenta. 

• Problemas com o útero, como incompetência do colo uterino, miomas ou anormalidades no formato do útero. 

• Infecção na mãe, causada por agentes que atravessem a placenta, como listeriose ou toxoplasmose, ou que provoquem trabalho de parto prematuro. 

• Outro problema de saúde da mãe, como doenças autoimunes, diabete gestacional, epilepsia, hipertensão, problemas renais ou anemia falciforme. 

• Problemas no desenvolvimento do bebê, como anormalidades cromossômicas, síndrome de Edwards, malformações no tubo neural, incompatibilidade do fator Rh, problemas congênitos cardíacos ou complicações de uma gravidez múltipla. 

Infelizmente, dois dos exames empregados para detectar problemas no bebê também podem provocar a perda da gravidez: na amniocentese, realizada normalmente entre a 15a e a 18a semana, a ocorrência de aborto tardio é de 1 por cento, ou seja, uma em cada cem mulheres que fazem o exame perde o bebê. 

Na biópsia do vilo corial, realizada normalmente por volta da 12a semana, o risco de aborto é de 1 a 2 por cento. 

A gravidez de mais de um bebê aumenta o risco de aborto tardio ou de o bebê nascer morto. A idade também influencia -- a partir dos 30 anos, o risco aumenta, e depois dos 35, aumenta mais um pouco. Mulheres mais velhas também correm mais risco de ter bebês com anormalidades genéticas. 

Tenho como saber se estou perdendo o bebê?

Os maiores sintomas são dores parecidas com as dores do parto, sangramento vaginal (que pode ter coágulos, e ser até uma hemorragia) ou rompimento da bolsa. 

Infelizmente, há casos em que não há nenhum sinal de que o coração do bebê parou de bater, e isso só é descoberto numa consulta de rotina. Nessa situação, a mulher é internada no hospital e submetida a uma indução para que o bebê nasça. Há casais que preferem fazer isso o quanto antes, e outros preferem esperar alguns dias, até absorver a notícia. 

Mas quem decide mesmo é o médico, pois a demora pode prejudicar a saúde da mulher. Se houver risco de infecção ou de alteração na coagulação sanguínea, o médico optará por fazer a indução o mais rápido possível. 

O que acontece depois do aborto tardio?

Antes da 20a semana de gravidez, o bebê é considerado feto, portanto não será necessário fazer nenhum tipo de registro nem tirar certidão de óbito. O hospital cuidará do corpo. 

Se a família quiser o corpo para fazer algum tipo de sepultamento ou cerimônia, pode requisitá-lo ao hospital. O hospital então emitirá uma declaração de óbito, e a família precisará ir ao cartório de registro civil tirar uma certidão de natimorto. 

É recomendável que a família se informe a respeito e manifeste sua vontade antes mesmo dos procedimentos médicos que forem indicados no caso, para que o hospital tome as providências necessárias a tempo, explica o Ministério da Saúde. 

Outra medida aconselhável é se informar para ver se o hospital possui serviço de psicologia -- ele pode ajudar muito enquanto os pais estiverem lá. 

Embora o registro não seja obrigatório, há famílias que se sentem melhor dando um nome à criança, para poder se referir a ela depois. É uma atitude que pode ajudar a aliviar um pouco a dor da perda, mais para a frente. Mas tem de ser uma atitude simbólica, pois a certidão oficial de natimorto sai apenas com o nome dos pais, sem nome para a criança. 

Em caso de aborto espontâneo até a 22a semana, a lei brasileira garante duas semanas de afastamento remunerado do trabalho (semelhante à licença-maternidade). Você pode consultar mais detalhes no site da Previdência Social sobre o assunto. 

Quando o bebê nasce morto depois da 23a semana, a mulher tem direito à totalidade da licença-maternidade (quatro meses na maioria dos casos). 

Há como saber o que aconteceu, por que houve o aborto?

No hospital, é aconselhável conversar com o médico para obter o máximo de informações possível. É importante você saber o que aconteceu para programar sua vida reprodutiva futura. Pelo exame do feto, será possível identificar o sexo e se havia malformações ou algum outro problema de saúde. Mas os resultados podem demorar. 

Exames de sangue na mãe podem identificar uma possível infecção. A placenta também é avaliada, pois, se o problema tiver sido placentário, haverá como saber. 

O exame pode ser feito pelo Serviço de Verificação de Óbitos, que é diferente do IML (Instituto Médico Legal). 

Passei por isso e não estou conseguindo me reerguer. O que faço?

Cada pessoa reage à dor da perda de uma maneira. Algumas querem retomar a "vida normal" o mais rápido que der, pois a rotina lhes dá segurança. Outras precisam de mais tempo. Uma perda assim é muito dolorosa, um trauma, e não deve ser minimizada. Procure e aceite ajuda de amigos e familiares, e converse com seu médico se sentir que está difícil retomar o dia a dia. 

Quanto tempo demora para o corpo se recuperar?

Nas primeiras semanas depois da retirada do bebê, a mulher apresenta um sangramento vaginal parecido com a menstruação e um pouco de cólica. Se o sangramento aumentar ou você perceber secreção vaginal com cheiro ruim, procure assistência médica imediatamente. 

Dependendo de de quantas semanas você estava, pode ser que seus seios comecem a produzir leite. É uma situação que só agrava a tristeza, porque lembra você o tempo todo da perda. Existem remédios para secar o leite, que só devem ser tomados sob orientação do médico (pergunte no hospital, porque o médico pode dar a medicação antes mesmo de haver sintomas). 

Uma estratégia que ajuda é usar sutiã bem firme o tempo todo (você pode usar dois, um em cima do outro). A pressão e a falta de estímulo ajudam a fazer o leite secar naturalmente. 

Cerca de 40 dias depois, você precisa voltar ao ginecologista/obstetra. Ele vai examiná-la para ver se seu organismo se recuperou, e é uma boa oportunidade para perguntar tudo o que quiser saber sobre o que aconteceu, e as implicações para uma nova gravidez. 

Pode levar algum tempo para seu corpo voltar ao que era antes da gravidez. Talvez você queira praticar alguma atividade física leve, que pode ajudar tanto no aspecto físico como no psicológico. Aceite a ajuda de amigos e familiares, mas só se achar que a ajuda vai mesmo ser útil. Se é de privacidade que você precisa, deixe isso claro. 

Corro o risco de sofrer outra perda tardia?

Depende da causa do aborto tardio. É por isso que é importante saber o que aconteceu. Converse com seu médico e pergunte se é o caso de vocês serem encaminhados a um especialista, como no caso de um possível aconselhamento genético. 

Doenças na mãe, como problemas autoimunes, diabete, epilepsia, hipertensão, problemas renais ou anemia falciforme podem ser a causa do aborto tardio. Mas, quando bem controladas, o risco de aborto é muito menor. 

Em caso de incompetência do colo uterino, na próxima gravidez você pode ser submetida bem cedo a uma circlagem, um procedimento que costura o colo do útero para mantê-lo fechado até o bebê estar pronto para nascer. 

Enfrentar a experiência de um aborto é sempre difícil, mas quando ele ocorre a partir do segundo trimestre, o choque é maior ainda. Saiba, porém, que a maioria das mulheres que passa por essa tragédia dá a luz a um bebê saudável na gestação seguinte. 

Cada pessoa reage de uma maneira à expectativa de uma nova gravidez. Há quem queira engravidar de novo o mais rápido possível, e há quem tenha medo só de pensar. Ambas as atitudes são normais. 

É mais que compreensível que uma nova gravidez seja marcada pelo medo e pelo nervosismo. Se por acaso você mudar de médico, é importante contar a história da perda com todos os detalhes -- o médico precisa saber para poder diminuir os riscos, e também para dar uma atenção especial à sua família.

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